Ao entrar no Centro Cultural, fugida do frio e dos pingos grossos de chuva que me perseguiam, fui invadida por uma panóplia de sons harmoniosamente dissonantes, essencialmente provindos de cordas e de dedinhos nervosos de crianças. Era um pequeno mundo de sons estranhos, independentes, e magicamente fundidos com o ruido da chuva na janela. Subi as escadas dos 3 pisos que me separavam do auditório enquanto fui deixando atrás de mim esses sons, para me deixar embriegar com o som do piano.
No auditório, uma luz parda e fria. O piano, estranhamente, no centro da sala. O seu som a misturar-se com o dos trovões, como que zangados com a impertinência das teclas em se fazerem ouvir. Ao fundo, sobre o rectângulo de soalho que costumava acomodar os pés frios do instrumento, uma bacia azul, contente, consubstanciada num metrónomo gigante de pingas de chuva, que se suicidavam timidamente do tecto. Cadência mágica, e o meu mundo ao contrário em água que cai.
(imagem obtida na internet)
Etiquetas: chuva, dança da chuva, musica, piano