Ensaio sobre a vida a passar depressa...
A vida passa depressa. Dei-me conta disso hoje enquanto andava às compras. Não, não foi só o frenesim das pessoas a andarem como formiguinhas de um lado para o outro, a empurrarem carrinhos de bebé ultra-volumosos contra as canelas das outras formiguinhas, a puxarem sacos que se prendem nas carteiras das outras formiguinhas. Não foi só a fome e o desconforto nos pés a dar-me sinal de que haviam passado já algumas horas sem que eu desse por isso. Não foi o sol a rasgar o céu em lume frio e a mudar de ângulo, e a dizer-me que o tempo passa.
O que realmente me deu a percepção de que o tempo passa foi o Sérgio Renato.
Quando éramos pequenos e não pensávamos nestas coisas do tempo e do espaço, houve uma altura em que andei na mesma turma do que o Sérgio Renato. Ele era um menino mais magro, mais pequeno, mais frágil do que todos os outros meninos, e do que a maior parte das meninas, com os seus óculozinhos e a sua maneira destabalhoada de correr. Era o menino que mais piadas ouvia por segundo quadrado.
Hoje vi, de relance, o Sérgio Renato. Ainda magro, ainda de aspecto magro, ainda com os seus óculozitos. Ainda a fazer estranhos movimentos com o pescoço enquanto ouve música. "Está o mesmo..." - pensei - "embora maior e mais velho". Pensei nisto com um sorriso, que logo se esmoreceu. Pareceu-me pelo seu olhar que poderia ainda estar a ouvir mentalmente a panóplia de asneiras gozantes da sua infância e juventude.
Estou a ficar velha, o Sérgio Renato parece estar a ficar velho, e era tão pequeno e tão frágil que eu nunca pensei que ele pudesse alguma vez envelhecer. Pensei que fosse ficar pequeno e frágil para todo o sempre!
A vida passa depressa...
Estou com leve dor de garganta, cefaleia, uma tossiqueira estranha, doi-me o queixo por causa de um "parece-que-bati-com-o-queixo-durante-um-ataque-de-sonambulismo"... e vi o Sérgio Renato.
O que mais terá o dia para me oferecer?
So far, parece o dia das bruxas... miaaaau!! fssss..........
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