Coisas que me apeteceu escrever
Ela pensava que o seu dia estava perdido. Era um daqueles dias em que lhe parecia que o tempo existia só para a controlar, só para lhe dizer que se se tivesse levantado duas horas mais cedo, ele ficaria com 26 h. E havia, de facto, acordado cedo. Mas naquele momento já pouco interessava o leve pequeno almoço ou o duche revigorante que tinha tomado poucas horas antes. Estava a trabalhar e acabara de iniciar uma tarefa daquelas que duram uma eternidade. O tempo passava e a sua hora de almoço atrasava-se a cada minuto. Não era uma tarefa daquelas que se podem largar a meio, como introduzir dados numa base informática. Não eram notas, não eram burocracias. Era uma pessoa a exigir a sua total disponibilidade e atenção. Mais do que aquela que dera a si mesma nessa manhã.
Ofereceu-se a essa tarefa como sendo a que a iria fazer sentir satisfeita nessa noite quando fosse dormir. Quando pensasse que teria valido a pena, que aquilo que fazia todos os dias afinal fazia sentido.
Quando a terminou, 1h10 após a hora em que supostamente havia de ter almoçado, reparou que o colega ainda lá estava, estoicamente à espera. "Onde queres ir almoçar?", ele perguntou. "Onde tu quiseres.:" respondeu, e de repente o sorriso... saindo-lhe da voz masculina "Não devias ter dito isso ".Um piscar de olhos.
Momentos depois, almoçavam juntos à beira mar. Estava frio, uma neblina branca a cobrir todo o mar e toda a areia. Falavam de como o mar fica bonito no Inverno. De como a velhinha deve ter uma angústia grande por se deixar estar sentada na areia apesar do desconforto que a rodeava. De como o barulho do mar faz "shhhhuuuu" e quase nos obriga a calar. Falavam de sonhos e suas interpretações. Falavam de si mesmos.
Mais tarde, ja regressados ao ambiente quase bélico, quase sádico, do trabalho, uma música.
Ela a pensar em como conhece uma pessoa que se encaixa bem naquela musica. O colega provavelmente a pensar em como conhece alguém que encaixa bem naquela música. Ambos a pensar que esses dois alguéns poderiam ter partilhado consigo o almoço em vez um do outro, e que assim teria sido perfeito. Ambos a desejarem estar ali na sala de reuniões com uma outra companhia.
Ela senta-se, e apaga a luz. Ele, exausto, debruça-se sobre a mesa. Faltam dez minutos para sairem, e afinal o dia não se perdeu. Podia ter sido melhor, pensam os dois. Mas não se perdeu.
1 Comments:
Bem, a música, é bestial... este termo é tão porreiro... bestial!
Beijinhos
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