"Os gatos dormiam sobre o tapete ou sobre o sofá. Uma multidão de gatos a dormirem confortáveis. À noite, sentava-me na escrivaninha, com páginas escritas de um lado, com uma folha branca, com a esferográfica na mão direita. À noite, a minha mãe deitava-se no sofá grande. Os gatos, um a um, subiam para cima dela. Gatos cinzentos, brancos, castanhos, pretos. Um a um, os gatos subiam para cima dela e deitavam-se e cobriam-na. O olhar da minha mãe era vago. A expressão no seu rosto inexpressiva. Parava o olhar de encontro a algum objecto, como se pensasse, e eu sabia que não pensava em nada. A minha mãe não pensava em nada. Às vezes, eu olhava a minha mãe e gostava de a poder abraçar."
(José Luis Peixoto, in Uma Casa Na Escuridão)
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